segunda-feira, 2 de março de 2009

Alquimia Guineense

Pintada de vermelho-sangue, desagrilhoando-se das memórias que lhe impôs o cão-tinhoso-de-olhos-azuis, tenta nascer com cada sol a Guiné, sustentada apenas em esperanças batucadas em silêncio, em promessas de ventos brandos capazes de mudar o destino de uma nação. Guiné agachada sob as chuvas de balas, despedaçada a cada disparo, Guiné cansada, sobretudo, de esperar pela sombra apaziguadora que há-de vir, quando se ouvirem «os sinos das sementes» que plantaram de olhos postos num futuro sossego.

Foi-te feita essa promessa e, no fim de contas, quando tudo parece perdido, encontras sempre um estilhaço de esperança cravado em ti. Quando mataste o cão-tinhoso, certa de que serias dona de ti mesma, não reconheceste, ofuscada pelo brilho da liberdade, o pomo da discórdia que te fora deixado, como uma ingénua e infinda maldição. Querendo tomar as rédeas do teu destino, dividiste-te em mil partidos e esqueceste a tão almejada comunhão, que sempre havia sido teu pregão e tua bandeira.

Espera, Guiné, que a penumbra há-de transformar-se em sombra amena e, sob essa sombra, hás-de ouvir o tilintar da semente que, crente, plantaste pela tua Pátria moribunda, porque, à moda dos alquimistas, procuras a todo o custo transformar em fé a tua dor.



Nota (facto que, mais tarde, se tornará uma simples efeméride): João Bernardo Vieira, “Nino” era o seu nome de guerra, presidente da Guiné-Bissau, foi assassinado a 2 de Março de 2009. Alegadamente, como retaliação do atentado à bomba que havia vitimado, no dia anterior, o General Batista Tagme Na Vaie.

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