domingo, 20 de julho de 2014

Ninguém gosta do Homero!

(Cleopatra, J.W.Waterhouse, 1888)


Estudai contemporâneos apenas
E colocai-os, fechadinhos, em provetas
Prestes chegareis a Atenas
Em conclusões e medidas rectas.
Esquecei p'ra sempre Homero,
Safo, Virgílio, os grandes poetas,
Deixai arder esta vossa Roma
E as vossas provas concretas.
Não há regra e esquadro que meçam
Hexâmetro algum! De pé dáctilo ou espondeu.
A sublime imensurabilidade
Daquilo que meio mundo nunca entendeu!
Não serve já a arte amatória
Aos pubescentes de discoteca
Nem retórica ou oratória
Vão além-portas desses botecos.
Resta-vos o vinho e o olvido
Que até a promiscuidade é já mudada.
Sussurra-nos a 'modernidade' ao ouvido
Que os tempos de antanho já não são nada.
Comeis as palavras que vos trouxe Eneias,
Encheis a boca de carpe diem,
Para cuspir depois em gamelas tão cheias
De científico-pedantismo!
Um dia ireis contemplar vossos umbigos
e saber por vós o que vos vêm dizendo
Que sabiam já os antigos
Tudo o que julgais ir aprendendo.