quarta-feira, 21 de maio de 2014

Da cegueira de Penteu


[dizias que] não sabias
o que fazias
enquanto partias
meus tesouros
minhas porcelanas raras
minhas louças tão caras
e tu só encaras
aquilo que te trazem
à vista seca
porque por detrás das cortinas
onde estão verdades
tu não fazes
mais que assustar meninas
falar coisas mesquinhas
preparar tuas mezinhas
esquematizar atrocidades.
Vês, como uma besta,
cacos sem valor,
quando ali pus, animal,
tanto, mas tanto suor.
quando os coleccionei uma vida
por amor,
quando os ergui ao alto
com fervor.
Cego!
Não vês os pormenores
em cores e flores que ali pus,
que são faunos, centauros,
negros cavalos alados,
sátiros e Ménades
e todo o thíasos
e as mulheres de Roma,
Ísis cheia de mistérios,
os meus sonhos
e uma fénix.
Tirésias, és Penteu cego!
E grande
tão grande
é o teu ego
que precocemente
te cega.
Acabarás por ver
quando
não queres saber
nem
dar conta de nada
de mim brotar
Agave alucinada!
Que a ti,
vê já metamorfoseado,
porque tomado
por eles e mudado,
mudo, calado,
em fera transformado.
Penteu, já o não és!

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