sexta-feira, 8 de maio de 2015

Diálogo do Silêncio



Ah, Coimbra, é tão difícil morar-te! A cada Maio nos trazes uma negritude que pesa mais do que a saudade, que de ano para ano piora, que de Queima a Queima sufoca. Deixas queimar as ruas de estrondo e devassa, e a cada estudante que passa, já nele não vejo a estudante que fui. São quase as mesmas capas, as desconfortáveis chanatas, o mesmo fétido traje posto a um canto a cada manhã. Ah, mas aquele espanto, a vontade, o querer, o tal espírito de que se fala , o saber para onde se vai, o sentir da balada, o amor com que se sai, encafuado na veste que badala, tolhido o andar do pé que dói, empurrado pelo sorriso amigo, abraçando tudo o que já foi - disto já não há!

Vendeu-se o fado, Hilário, não é mais teu, é do Estado. É pertença de armário de comissão, do comissário ladrão, que reduz concertos a cantigas de jajão, que esmoifa notas em jantares de reunião. Ai, Hilário! Se o saber se vende, se se vende tanta cerveja, porque se não há-de vender, pois, a festa? Que levem a sua essência também, a custo zero, mas não a cidade que reclamam! Não, obstinados, de fatiota ajanotados, manada de joelhos arrastados no porco chão do vosso vazio. Tenham brio! Respeito pela alma mater que vos acolhe, pelo rio que vos alimenta a vista, pela gente que é de cá e vos recebe. Um respeito que está acima de qualquer dux, de qualquer praxe, do doutor que vos escolhe ou do que melhor vos engraxe, do que vos manda o cenho baixar, noite fora - só a cabra tem o direito de vos dizer 'agora'! Só vós tendes o poder de dizer 'chega!', usando essa capa briosa de consciência acesa.

Ah, Lusa Atenas, que amas os teus filhos por igual, quem é de fora e quem é de cá, os que te fazem bem e os que te querem mal, gente boa e gente má, deste esquema piramidal que deixas crescer, por qualquer razão que meu coração desconhece. Sacode a peneirice, mulher primeira, és a pura mae guerreira, ventre dos que se não calaram! Traz teus filhos de volta à essência, que urge tanto e há pertinência de pureza. Sê, de novo, uma lição!  

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