Ditirambos… Ouvem-nos? A percussão ritmada, as flautas estridentes… É Fevereiro, é o festival das antestérias, a festa das flores e do vinho novo. As crianças coroam de flores as suas cabeças loiras. Façamos como elas. Usemos, sobre a túnica sem mangas e sem graça do quotidiano, as peles de animais que nos devolvem as mangas dos sonhos. Peguemos nos tirsos e nas serpentes com as nossas próprias mãos e façamos parte do thíasos, por uma só noite, acompanhando os sátiros e as ménades no seu cortejo mítico. Numa correria desenfreada, subamos às montanhas, ao som dos tamboris, tomemos o topo do Parnaso e, chegados lá, dancemos e bebamos, bebamos e deixemo-nos levar no delírio dionisíaco. Que cada um por si capture e dilacere, sem mostrar piedade, o animal selvagem que reflecte, naquele instante, todos o males que nos atormentam, e que o devore sofregamente, ao pior modo animalesco, como faríamos, se pudéssemos, aos fantasmas das nossas vidas de túnicas sem mangas Momentaneamente alienados da nossa personalidade, nunca deixemos cair a máscara, só por esta noite. Viremos a realidade do avesso, invertamos todos os papéis, sejamos quem quisermos, do modo que desejarmos, que é só uma noite.
E aqueles que desprezam ou censuram o culto libertador de Diónisos, não esqueçam nunca o triste destino de Penteu, rei de Tebas, que, como castigo por se opor a esta prática e por ter chegado a proibi-la nos seus domínios, é cruelmente devorado pela sua mãe que, possuída pelo deus das artes, do divertimento, do vinho e da vitalidade, o confunde, no espaço-tempo de um delírio momentâneo, com um animal selvagem. Rio-me de ti, Penteu, ilustre rei de Tebas, tão prisioneiro da tua túnica, da tua toga, tão fiel às mangas que não tinhas, aos sonhos que escondeste e já nem sabias onde os tinhas deixado. Se nunca quiseste, por um momento, desagrilhoar-te de tudo o que te rodeava, deixasses que os outros o fizessem, que corressem, que bebessem, que dançassem, descalços, na neve. Rir-te-ias deles com desprezo. Mas se reparasses, se olhasses melhor, verias como se divertiam, como se libertavam, como riam muito e muito alto. Rir-te-ias de novo, mas sem desprezo. Haverias de rir-te como eles. Se tivesses pensado um pouco mais, talvez tivesses rido com eles.
E aqueles que desprezam ou censuram o culto libertador de Diónisos, não esqueçam nunca o triste destino de Penteu, rei de Tebas, que, como castigo por se opor a esta prática e por ter chegado a proibi-la nos seus domínios, é cruelmente devorado pela sua mãe que, possuída pelo deus das artes, do divertimento, do vinho e da vitalidade, o confunde, no espaço-tempo de um delírio momentâneo, com um animal selvagem. Rio-me de ti, Penteu, ilustre rei de Tebas, tão prisioneiro da tua túnica, da tua toga, tão fiel às mangas que não tinhas, aos sonhos que escondeste e já nem sabias onde os tinhas deixado. Se nunca quiseste, por um momento, desagrilhoar-te de tudo o que te rodeava, deixasses que os outros o fizessem, que corressem, que bebessem, que dançassem, descalços, na neve. Rir-te-ias deles com desprezo. Mas se reparasses, se olhasses melhor, verias como se divertiam, como se libertavam, como riam muito e muito alto. Rir-te-ias de novo, mas sem desprezo. Haverias de rir-te como eles. Se tivesses pensado um pouco mais, talvez tivesses rido com eles.