quinta-feira, 28 de março de 2013

Dum tardio desassossego,um tanto ou quanto febril


Não é nem qualidade nem defeito:
é jeito de ser inconformado, não só com o que é de fora
mas essencialmente com o que pertence cá dentro,
inculcando aos dias
um algo mais do que o seu passar corriqueiro.
É angustiar para si os mil sentidos do mundo,
apertando contra o peito o léxico da procura
e espremendo das mãos o sumo infinito do ser.

Os maníacos do entendimento e da percepção
(percepção, e não perfeição - porque esta aos deuses pertence,
que não existem senão no nosso mais puro medo.)
julgam extinguir-se no não ter ido mais longe,
no não ter ousado tanto
na parcial e sempiterna incompreensão,
pela sua parte
de si mesmos, do mundo e dos outros,
e da parte so outros
dos ‘eus’ inquietos, do mundo metafísico,
e de outros ainda que são outros aos outros.

Lembro Álvaro, que teve por mestre Alberto,
que foram de Ricardo contemporâneos;
e José, o último deles discípulo
velhinho de ter tido esperança neste país.
E de tanta esperança que teve,
cansou de esperançar por fora,
de acreditar na pátria que o agrilhoou.
E mudou-se para fora do seu fora
como agora amiúde se faz agora.

Os miúdos, cansados de desassossego,
hoje, partem da pátria, estéreis de esperança,
carregando as malas apenas com interrogações,
desassossegando somente por fora,
porque as entranhas, de tanta ânsia,
esgotaram as perspectivas e funcionam apenas
por mecânica.

Sobram poucos inconformados.
Importa, sobretudo, que existam e que insistam
no transmitir do desassossego
como um testemunho pesadamente português
cuja ausência aperta a mordaça, mental e real,
daquilo que somos ou temos direito a almejar
porque o espírito ainda é livre e não posse estatal.